Muitos acreditam que contra fatos, não há argumentos, e que os números são a forma mais exata de se apresentar fatos. No entanto, há uma frase, muito utilizada nos veículos de comunicação, que diz que “a estatística é a arte de torturar os números até que eles confessem o que você quer demonstrar”.
Foi basicamente isso que o Banco do Brasil fez nos últimos dias. Divulgou em seu site interno sobre negociação coletiva que, de 2005 a 2023, o BB concedeu um ganho real aos seus trabalhadores em torno de 18,3% superior a inflação.
De fato, neste período da pesquisa, os bancários do Banco do Brasil tiveram ganho salarial superior a inflação (INPC). No entanto, se analisarmos os últimos 4 anos (2020, 2021, 2022 e 2023), os bancários tiveram uma reposição salarial acumulada de 27,22% e uma inflação de 28,73%, o que resulta em uma perda real de 1,01%. Entre 2020 e 2022, os bancários do BB tiveram reposição salarial inferior à inflação dos respectivos anos.
O Plano Real e a perda histórica nos salários
Para “dourar a pílula”, ou melhor, os reajustes, o que o Banco do Brasil fez foi deixar de divulgar a perda histórica dos bancários com o plano Real. O plano Real significou uma “estabilidade econômica” à custa de uma grande derrota do país e da classe trabalhadora.
O País foi colocado à venda com desnacionalização e privatização de grandes empresas estatais, vendas de bancos estaduais, desindustrialização, conversão artificial de um real em um dólar (dando uma falsa impressão de moeda forte) e um retrocesso enorme para o Brasil.
O que realmente ocorreu é que passamos a ser cada vez mais exportador de matérias primas e importador de produtos manufaturados e de tecnologias.
Neste período, a dívida pública do País, principalmente interna, explodiu. Do ponto de vista salarial, em 1994, os trabalhadores tiveram de cara logo duas derrotas:
- A primeira quando os salários foram “equiparados a URV”, que levou uma queda do seu valor real (em março de 1994 os salários foram convertidos pela média dos últimos 4 meses e não pelo maior salário);
- Depois, com o calote da inflação de julho de 1994 (7,75%) e agosto de 1994 (1,85%).
Na data base de setembro de 1994, os bancários reivindicaram 116% (Fonte: Folha de São Paulo, 03/08/1994) pelas perdas salariais, mas na ocasião os bancários do Banco do Brasil só obtiveram 13,69% de reajuste.
Porém, os ataques ao poder de compra dos bancários do BB e seus salários não pararam aí. Ao analisar o período de 1995 a 2004, verificamos que os trabalhadores da estatal só não tiveram perdas salariais em 2004.
Antes disso, chegaram a amargar 0% de reajuste em 4 anos de 1996 a 1999. Nesse período, os bancários do Banco do Brasil acumulam perdas salariais 54,31%.
Entre perdas e ganhos
Agora sim, analisando todos os dados sem qualquer manipulação dos números, temos que, considerando as perdas salariais de 1994 com as perdas salariais de 1995 a 2004 e os ganhos salariais de 2005 a 2023, o Banco do Brasil deve repor os salários em 41,67%. Aí sim, poderíamos dizer que o Banco quita a dívida histórica com os seus trabalhadores bancários.
Fonte: SEEB-RN com Nota Técnica Ilaese