O depoimento dado, ontem (12), pelo ex-secretário de Comunicação da Presidência Fabio Wajngarten à CPI da Covid foi marcado por contradições, tumulto e xingamentos.
Ao todo, Wajngarten caiu em seis principais contradições, gerando revolta nos senadores, que o acusaram de mentir durante a CPI. Por conta dessa postura do ex-secretário, o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), chegou a pedir a prisão de Fabio, no entanto, mesmo com o apoio de outros parlamentares, o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM) disse que não prenderia o depoente, pois não é “carcereiro de ninguém”.
Revoltado com a possibilidade da prisão de Wajngarten, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) chamou Renan de vagabundo. “Imagina um cidadão honesto ser preso por um vagabundo como o Renan”, afirmou o filho do presidente Jair Bolsonaro. Após a confusão, a sessão foi suspensa, também em decorrência de votação no plenário do Senado.
Campanha pro bono
Durante a CPI, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) questionou Wajngarten sobre uma campanha pro bono feita pela Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência) por R$ 600 mil, em março de 2020. Em resposta à pergunta, o ex-secretário alegou que na época, ele com estava com Covid-19 e “os 26 dias de março eu fiquei fora”. No entanto, durante vídeo com o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), realizado enquanto Wajngarten estava infectado, o ex-secretário afirmou que: “Eu sou a prova viva que, mesmo testado positivo, a vida segue, eu estou trabalhando normal, tenho feito ’calls’ com ministros, com a Secom, tenho aprovado campanhas, tenho conversado com os criativos das agências de publicidade”.
Campanhas de prevenção à Covid
Segundo o TCU (Tribunal de Contas da União), o governo Bolsonaro gastou a maior parte dos recursos destinados a campanhas publicitárias de enfrentamento à Covid-19 na divulgação de medidas econômicas, e não em informações sobre prevenção da doença. Dos R$ 83,6 milhões gastos em campanhas publicitárias para a pandemia, apenas R$ 800 mil foram usados em uma única ação para divulgar informações sobre o coronavírus. Apesar disso, na CPI, Wajngarten afirmou: “Nós tivemos, em todos os meses, desde fevereiro de 2020, campanhas informativas, campanhas educativas, campanhas publicitárias, totalizando 11, sendo quatro da Secom e sete do Ministério da Saúde.”
#OBrasilNãoPodeParar
Em março de 2020, a campanha com a hashtag #OBrasilNãoPodeParar, que tinha como objetivo contrariar o isolamento social, foi divulgada em pelo menos dois perfis oficiais do governo, como a conta no Twitter (@SecomVC) e no Instagram (Governo do Brasil). Na época, o ministro Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), vetou a publicação do conteúdo, argumentando que iniciativas contra o isolamento colocariam a vida da população em risco.
Sobre o tema, durante a CPI, Wajngarten se fez de desentendido: “Eu me recordo de um vídeo circulando, ”O Brasil não pode parar”, eu não tenho certeza se ele é de autoria, de assinatura da Secom. Eu não sei se ele foi feito dentro da estrutura ou por algum… E circulou de forma orgânica.”
“Incompetência” de Pazuello
Diferentemente do que Wajngarten disse em entrevista à revista Veja, em abril, na qual afirmou que a compra de vacinas oferecidas pela Pfizer não ocorreu por “incompetência e ineficiência” do Ministério da Saúde, à época chefiado pelo general Eduardo Pazuello, o ex-secretário, durante a CPI, se esquivou de responder questões sobre o general, chegando até a elogiá-lo, afirmando que Pazuello foi “corajoso de assumir a pasta no pior momento da pandemia”.
Após os senadores pressionarem Wajngarten sobre sua contradição, ele afirmou que vê como incompetência de Pazuello ”ficar refém da burocracia”.
Carta da Pfizer ignorada pelo governo
À revista Veja, Wajngarten disse que convidou os diretores da Pfizer – farmacêutica que ofertou vacina ao Brasil – para ir à Brasília e que foram feitas várias reuniões. “As negociações avançaram muito. Os diretores da Pfizer foram impecáveis. Se comprometeram a antecipar entregas, aumentar os volumes e toparam até mesmo reduzir o preço da unidade, que ficaria abaixo ficaria abaixo dos US$ 10.”
Na CPI, o ex-secretário disse que nunca participou das discussões e que não negociou com a empresa. Apesar disso, após ser pressionado, Wajngarten admitiu que a carta em que a Pfizer oferecia negociar doses de vacina ao Brasil ficou parada por ao menos dois meses no governo federal.
Aval de Bolsonaro na compra de vacinas
Na entrevista à revista, sobre a falta de vacinas, Wajngarten afirmou que o governo não pode ser acusado de inoperância e que agiu com o aval do presidente. “Antevi os riscos da falta de vacina e mobilizei com o aval do presidente vários setores da sociedade.”
Contudo, na CPI, Fabio disse o contrário: “Não tem nenhum aval do presidente. Como já disse anteriormente, eu procurei, eu procurei inúmeras pessoas para trazer segurança jurídica para que pudesse adquirir [vacinas].”
Para o Sindicato dos Bancários de Bauru e Região (ligado à FNOB), Wajngarten não conseguirá sustentar por muito tempo tantas mentiras. Além disso, apesar do filho de Bolsonaro, provavelmente, tentar tumultuar a próxima sessão assim como fez na quarta-feira, não há escapatória: o governo Bolsonaro está atolado até a boca de responsabilidade pelas omissões e irregularidades nos gastos durante a pandemia de Covid-19.